Anacronizando os contos #3: João e o Pé de Feijão

Já falamos sobre "Cinderela" e "O Patinho Feio" nos outros posts da série Anacronizando os contos. Essa semana iremos tratar de outra maravilhosa fábula deturpada que é a história de "João e o Pé de Feijão".

Algumas versões da história mostram que João e sua Mãe eram pessoas ricas devido ao golpe da barriga que a mesma tinha aplicado no Pai (rico) de João. Depois que este faleceu, começaram a viver na miséria, pois não sabiam ADMINISTRAR o que tinham. Sobrou apenas uma vaquinha. A golpista adoeceu e pediu para o filho ir ao mercado e vender o animal para comprar remédios e alimentos.

No meio do caminho, João encontra um estranho que oferece um pacote de feijões, supostamente mágicos, em troca da vaca. A principio João não aceita, mas a LÁBIA do estranho era tamanha, digna de um vendedor de carros usados, que João acabou convencido, aceitando a oferta.

Perguntas: se os feijões eram realmente mágicos, por que o estranho venderia? Obviamente porque não eram! E quem afinal era esse estranho? Com certeza era um ATEU, uma pessoa sem fé. Bem diferente de João.

É o negócio da sua vida! CONFIE EM MIM!

Ao chegar em casa, João conta sobre o seu FARO para negócios e é aqui que a história deveria terminar: com uma surra homérica da mãe no filho (BULLYING) além das humilhações verbais, mas esses contos de fadas não primam pela razão. A mãe jogou os feijões pela janela e o filho foi dormir com o couro quente.

No dia seguinte, graças ao milagre da ENGENHARIA GENÉTICA, havia um ENORME pé de feijão!


Opa. Calmaí. Olha isso. É muito fino, muito pequeno. A história está enganada. Não é um pé de feijão. Irei prover a vocês, leitores, algo mais factível. Um pé de SEQUÓIA. A história muda de nome. Agora é João e o Pé de Sequóia. Tudo bem?


Agora sim podemos dar prosseguimento a história.

João, destemido, resolve subir no pé de sequóia. Não sei porque ele faria isso, ninguém sai subindo em todas as arvores gigantes que vê pela frente. Cadê os equipamentos de segurança? Ele deveria ter caido e ficado paraplégico  mas não há ventos, não há chuva, não há falta de ar por estar em um local de altitude elevada... nada disso. Bastante conveniente.

Perguntas: onde é que João vivia? Se fosse em Potosí (3.967 metros de altitude) ou em Bariloche (3354 m de altitude), ele estaria muito encrencado. Se até os jogadores de futebol costumam reclamar que "falta ar", só podemos crer que João tinha três pulmões. E esse não era o principal dos problemas...

Ele subiu tanto no pé de sequóia que estava NO MEIO DAS NUVENS. A Wikipédia diz que "quando a altitude aumenta em 200m a temperatura ambiente diminui aproximadamente 1 grau Celsius". Uma nuvem baixa tem 2km de altura, ou seja, 2000 metros. São 10ºC a menos. Uma nuvem alta tem 6km de altura, 30ºC. Ele não sentia frio? Ele tinha que ser MUITO gordo para demorar a sentir os efeitos da temperatura, mas isso inviabiliza subir uma sequóia... é não faz sentido nenhum.

Lá encontrou um castelo. Pense. Subverteu as leis da física esse castelo em cima das nuvens.


Perguntas: Como o gigante sobrevive no céu? Quem construiu o castelo? Por que ele não investiu no local para ser uma atração turística?

Dizem que o gigante comia só carne humana. É meio difícil de acreditar nisso, afinal como as pessoas iriam parar no castelo? Havia uma indústria de feijões geneticamente modificados? Se não, como ele descia para a terra? Ele pulava que nem o HULK? Se sim, guarde essa informação para mais tarde.


Bem, o gigante tinha uma galinha que botava ovos de ouro - eram comestíveis? - e uma harpa de ouro falante. Isso despertou a COBIÇA de João.

Ao INVADIR no castelo, nosso protagonista anti-herói foi flagrado pela esposa do gigante. Ela, na melhor das intenções, falou do comportamento do seu marido em relação as visitas, mas ofereceu comida e abrigo para o garoto. Como ele pagou por isso? ROUBANDO! João roubou uma sacola de moedas de ouro!

Chegando em seu lar, mostrou para sua Mãe o que havia conseguido. Ela, orgulhosa pelo filho trilhar os seus passos de GOLPISTA, desejou mais e mais. E influenciou o filho a roubar os dois itens preciosos do gigante, que não havia feito mal algum a ele.

Após planejar muito bem o que faria, João usou truques para disfarçar sua aparência e entrar no castelo novamente com a conivência e boa-vontade da esposa do gigante. Se aproveitando da sua FALSIDADE IDEOLÓGICA, João novamente FURTA o gigante, levando embora sua galinha de ovos de ouro.

Ninguém dá queixa. O gigante nem ao menos faz um boletim de ocorrência. Enquanto isso, João e sua Mãe começam a viver tão bem como na época em que seu Pai era vivo.

Passam-se alguns dias e Mãe e Filho resolvem dar o golpe de misericórdia: "vamos roubar a harpa". Provavelmente queriam utilizá-la em regime de escravidão para animar as tavernas das redondezas. E lá se vai João novamente para o castelo nas nuvens em busca do último item do gigante.

Pergunta: esse tempo todo o pé de sequóia gigante está no quintal deles e NENHUM VIZINHO VÊ?


Dessa vez as coisas não acontecem como planejado. O gigante vê João roubando e não ia deixar barato! E desembesta a correr atrás do garoto! João desce o pé de sequóia com o gigante em seu encalço. Milagrosamente João consegue chegar ao chão sem ter sido capturado pelo gigante. Então ele corta a sequóia com um machado uma SERRA ELÉTRICA.


É incrível o que faz o desespero, né? Provavelmente João já não estava sozinho nessa hora, sua Mãe deve ter chamado todos os habitantes da cidade, cada um munido de sua serra elétrica, e cortaram a árvore. Claro que ela deve ter dado um monte de ovos de ouro para cada habitante pela ajuda, provocando um COLAPSO NA ECONOMIA. Pois. João MATOU o gigante com ajuda dos seus vizinhos. E comeram a carne dele, óbvio, porque canibalismo nos olhos dos outros é refresco.

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