Fragmentos de um discurso amoroso


Em "Fragmentos de um discurso amoroso", Roland Barthes faz, grosso modo, um dicionário do amor. Mas esse dicionário não é, por assim dizer, rígido. O uso da palavra “discurso” do título da obra remete a dis-cursos, a ação de correr de um lado para o outro, idas e vindas. Sendo assim, um discurso está em constante mutação. Essas palavras presentes no livro, que o autor chama de figuras, cada um de nós pode preenchê-las com nossos próprios significados baseados em nossas experiencias amorosas. Roland Barthes usa referencias tanto da literatura, como a amigos próximos e a sua própria para atribuir significado a alguma dessas palavras.

Achei interessante a ideia do livro, pois tenta por em palavras o que cada figura representa no campo amoroso. É sempre legal fazer esse debate mental do que EU penso com o que os outros pensam e criar novos conceitos ou adequá-los aos seus próprios. É um bom livro pra ser debatido.


Alguns exemplos das palavras listadas pelo autor e seu respectivo significado:

Alteração: produção breve, no campo amoroso, de uma contra-imagem do objeto amado. Ao sabor de incidentes ínfimos ou de traços tênues, o sujeito vê a boa Imagem subitamente se alterar e ruir.

Ciúme: “sentimento que nasce no amor e que é produzido pelo temor de que a pessoa amada prefira um outro” (Littré).

Encontro: a figura se refere à época feliz imediatamente subsequente á primeira sedução, antes que surjam as dificuldades da relação amorosa.

Entender: percebendo repentinamente o episodio amoroso como um nó de razões inexplicáveis e de soluções bloqueadas, o sujeito exclama “Quero entender (o que está acontecendo comigo)!”

Espera: tumulto de angustia suscitado pela espera do ser amado, ao sabor dos mais ínfimos atrasos (encontros, telefonemas, cartas, retornos).

Identificação: o sujeito se identifica dolorosamente com qualquer pessoa (ou com qualquer personagem) que ocupe, na estrutura amorosa, a mesma posição que ele.

Imagens: no campo amoroso, os ferimentos mais profundos vêm mais daquilo que vemos do que daquilo que sabemos.

Mutismo: o sujeito amoroso se angustia pelo fato de o objeto amado responder parcimoniosamente, ou não responder, às palavras (discursos ou cartas) que ele lhe destina.

Objetos: todo objeto tocado pelo corpo do ser amado torna-se parte desse corpo e o sujeito a ele se apega apaixonadamente.

Por quê: ao mesmo tempo em que se pergunta obsessivamente por que não é amado, o sujeito amoroso vive na crença de que, de fato, o objeto amado o ama, mas não lhe diz.

Sedução: episodio reputado inicial (mas que pode ser reconstruído a posteriori) no decorrer do qual o sujeito amoroso é “seduzido” (capturado e encantado) pela imagem do objeto amado (nome popular: amor à primeira vista; nome cientifico: enamoramento)

Vale muito a pena ler e reler!

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