Série de livros FEIOS

Ingrid me falou que leu este livro na época em que eu lia Jogos Vorazes. Ela disse que a história tinha potencial para ser boa. Por FEIOS também ser uma distopia (meu gênero predileto), pensei que ia gostar bastante!


Infelizmente, assim como ela, achei bem bobo.

Tally Youngblood tem 15 anos de idade e vive em VILA FEIA. Em seu mundo há os FEIOS, pessoas como ela, e os PERFEITOS, pessoas que que são presenteadas pelo governo com uma intervenção cirúrgica de modo a deixa-los como uma aparência externa perfeita, alem de um organismo mais resistente a doenças, ossos mais leves e resistentes, etc etc etc.

Esse "presente" é dado a todos os cidadãos ao completarem 16 anos. Tally está super ansiosa para que chegue logo seu aniversario para, enfim, se tornar perfeita.

Que vantagens há nisso? Em NOVA PERFEIÇÃO, a cidade dos perfeitos, pode-se dormir ate a hora que quiser, ninguém trabalha, o governo oferece casa, comida e roupa lavada, as pessoas vivem festejando... Porem.... Bem, não vou estragar a surpresa.

Quem, em sã consciência, recusaria isso? Os amigos mais velhos de Tally já estão todos em Nova Perfeição e a garota precisa passar o tempo ate a data de sua cirurgia. Nesse ínterim ela conhece Shay, uma menina que NÃO quer se tornar perfeita. POR QUE?


PEOR! além de não querer ser perfeita, Shay deseja se mudar para um local "mitológico" chamado Nova Fumaça, uma espécie de comunidade "hippie" onde as pessoas vivem NA e DA natureza, comendo plantas e animais, sem o conforto que a cidade oferece. Que ABSURDO, né?

O problema é que Shay desaparece e os ESPECIAIS, um grupo de PERFEITOS que monitora a cidade, incumbe Tally de ir atras da sua amiga. Caso se recuse, a garota nao ira se tornar perfeita! Tadinha!

Esse primeiro livro da serie conta o resgate de Shay por Tally, mas este post contem reflexões e comentários a respeito dos quatro livros.


Deu pra ver que tem varias lacunas a historia, né? É assim mesmo. O livro demora MUITO para dizer a que veio. Retarda muito para mostrar os CONTRAS desse novo mundo (Tenha calma, todas as respostas são dadas, mas é algo tao fora de ordem que você pensa se faltou planejamento do autor Scott Westerfeld).

Eu fiquei imaginando um filme. Se acontecer, tem que mostrar muitos mais benefícios para se tornar um PERFEITO. Tally também teria que ter sua personalidade modificada para uma garota ALUADA/INGÊNUA/EGOÍSTA, pois não faz sentido trair os amigos. A Vila Feia precisaria se tornar um local medíocre  afinal é como se ela fosse a periferia de Nova Perfeição  ou seja, submetida ao mesmo governo. Não ha falta de comida em Vila Feia, é tudo uma questão estética.
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte... (Titãs - Comida)
Se hoje não temos uma cirurgia que possa nos modificar completamente, como o livro sugere, temos outros meios de se encaixar num padrão de beleza "perfeito" (ou quase isso). Temos que ser magros e ao mesmo tempo fortes (vá pra academia!); Nossos dentes precisam ser brancos e perfilados (alô, dentista!). Nossos cabelos precisam ser mais lisos que pau de sebo (shampoos e salão de beleza). Silicone! Lipoaspiração! Lente de contato! Perucas! Marca passo! A lista é longa, mas basicamente esse é o padrão que a sociedade impõe. Daí me lembrei desse post da Lola sobre os corpos dos atletas olímpicos (LEIA, POR FAVOR), mostrando que cada pra cada modalidade há um biotipo adequado. Percebemos como é ténue a linha de um padrão de beleza.


A tentativa de HOMOGENEIZAÇÃO da sociedade é para evitar os conflitos. As intenções inicias são boas. O governo condicionava as pessoas a se sentirem inferior por terem nascido feias. A única opção era se tornar perfeito, fazer a cirurgia. Assim não haveria distinção.
- Até parece que as coisas eram maravilhosas quando todo mundo era feio. Ou será que você perdeu essa aula na escola?
– Eu sei, eu sei. Todo mundo julgava os outros pela aparência. As pessoas mais altas conseguiam empregos melhores, e o povo votava em certos políticos só porque eles não eram tão feios quanto a maioria. Blá, blá, blá.
– Isso aí. E as pessoas se matavam por coisas como uma cor de pele diferente. – Tally balançou a cabeça. Por mais que repetissem aquela história dezenas de vezes na escola, ela nunca tinha acreditado de verdade. – Então, qual é o problema de as pessoas serem mais parecidas agora? É o único jeito de tornar as pessoas iguais.
– Poderiam pensar numa forma de deixá–las mais espertas. 
Ainda em relação a beleza, nesta parte do livro Tally e Shay encontram revistas antigas, do período em que não havia a cirurgia. E aí percebemos as diversas formas de beleza do passado (e se você tiver lido o post que indiquei, tudo vai fazer mais sentido ainda).
Os olhos de Tally demonstravam espanto enquanto Shay virava as páginas, sempre apontando e rindo. Ela nunca tinha visto tantos rostos tão diferentes. Bocas, olhos e narizes de todos os formatos possíveis, combinados de um jeito absurdo, em pessoas de todas as idades. E os corpos? Alguns eram monstruosamente gordos ou estranhamente musculosos ou perturbadoramente magros. E quase todos apresentavam proporções desequilibradas e feias. No entanto, em vez de demonstrarem vergonha por causa de suas deformidades, as pessoas davam risadas, trocavam beijos e posavam, como se as fotos tivessem sido tiradas numa grande festa. 
O livro tem uma preocupação ambiental IMENSA, beirando ao ridículo. O discurso nas entrelinhas explicito é que os seres humanos são uma praga incontrolável que irá destruir o mundo a qualquer momento. Por isso não devemos derrubar nenhuma arvore, não abater animais para comer... É muito extremista. Essas imposições são todas feitas pelo governo. Ele decide; o povo acata. ACATAR é o termo certo, pois a sociedade apenas respeita e venera o que o governo. Não há questionamentos sobre o autoritarismo. Tá tudo dando bem pra todos, então por que mudar?

É aí que o direito de escolher é ressaltado. 
– Por que sou infeliz? – repetiu Tally. – Porque a cidade obriga você a ser como eles querem, Peris. E eu prefiro ser eu mesma. É por isso.
Ele apertou o ombro dela com uma expressão triste no rosto.
– Mas as pessoas são melhores agora. Podem existir boas razões para eles terem nos mudado, Tally.
– Peris, as razões deles não significam nada, a não ser que eu tenha o direito de escolher. E eles não dão esse direito a ninguém – disse ela, tirando o braço dele do ombro e se voltando para a cidade que se distanciava. 
E após certos eventos ocorrerem no livro, vimos o quanto o debate e a discussão de ideias é algo ainda, no minimo, estranho para a protagonista. 
Tally jamais tinha ouvido adultos discutindo daquela forma, nem mesmo em particular. Era como se um bando de feios dominasse as transmissões. Sem as lesões para tornar as pessoas aprazíveis, a sociedade vivia em constante estado de guerra por meio de palavras, imagens e ideias.
Era uma sensação avassaladora, quase como o modo de vida dos Enferrujados, ter que debater todas as questões em público em vez e deixar o governo fazer o seu trabalho.
E as mudanças já em vigor em Diego eram apenas o início, Tally percebeu. A cidade dava a impressão de estar fervendo com todas aquelas mentes emancipadas trocando opiniões, como algo prestes a explodir.  
Quando percebemos que a historia se passa 300 anos após um colapso na terra, somos chamados de ENFERRUJADOS, para ressaltar nossa dependência do metal. Só que essa parte não ficou bem explicada. Essa DERROCADA aconteceu devido a uma bactéria, criada por alguém que não sabemos quem, tornar os produtos criados com petróleo totalmente inflamáveis. Aparentemente aconteceram sérios incêndios globais devido a isso e MUITA gente morreu porque ao invés de fugir a pé, fugia de carro. E o carro contem peças feitas de petróleo (e, óbvio, há o combustível)... Somos estúpidos assim? Esse colapso aconteceu do dia para noite? Quantas pessoas sobreviveram? Quais são as matérias primas do novo mundo?

Outra questão: Tally tinha pais, Sol e Ellie, mas como era o relacionamento deles? Por que ela não usava pai e mãe para se referir aos pais? Como era a família em Vila Feia? A população era controlada? Como?

DO QUE LEMBREI AO LER O LIVRO?


Em vários momentos da história lembrei de possíveis referencias a cultura popular. A prancha flutuante, tão usada nos livros, por exemplo: não tem como deixar de lembrar de DE VOLTA PARA O FUTURO.



O cenário, na minha cabeça, foi uma mistura do desabitado mundo do seriado Revolution e do anime No.6 com a tecnologia autosuficiente da cidade de Tokyo 3 (Evangelion).

  

A viagem de Tally, SOZINHA, para a Vila Fumaça me deu a mesma sensação de jogar Shadows of the Colossus. Veja o vídeo acima. Sério. Troque o cavalo por uma prancha flutuante e pronto. Era Tally sozinha num mundo COMPLETAMENTE DESABITADO. A mesma solidão que Wander, o protagonista de SOTC, deve sentir.


A reserva humana, pra mim, foi o ponto alto dos três primeiros livros. A forma de conter os humanos primitivos no local é a cara de LOST. Observe a descrição.
E no interior dos bonecos devia haver algo muito mais sofisticado: um sistema de segurança capaz de subjugar seres humanos, sem causar mal às árvores e aos pássaros. Algo que atacava o sistema nervoso, traçando uma fronteira intransponível ao redor do mundo daquelas pessoas.  
MUITA CALMA NESSA HORA. ACABEI DE FALAR DOS TRÊS PRIMEIROS LIVROS, MAS AINDA HÁ O QUARTO...

Quando li a série, acreditei que o título do quarto livro, EXTRAS, era uma referência a um conteúdo extra da história original. Um compêndio, sabe? Com informações sobre aquele mundo.

Eu estava errado. Quase.

Extras é uma espécie de spin-off da serie feios.

A história ocorre no mesmo mundo de Tally Youngblood, 3 anos e meio apos os acontecimentos do terceiro livro da série, ESPECIAIS. Ao invés de beleza, a tecnologia e a popularidade são o que chamam a atenção. A protagonista chama-se Aya e aparentemente a historia se passa no Japão, afinal a garota fala japonês (dããã). Youngblood faz uma "participação especial" na historia.


Pra mim, se rolasse um filme, esse seria o mais chamativo. Justamente por ter TUDO A VER com o mundo que vivemos. Da popularidade. Da comparação social. A moeda da sociedade chama-se MÉRITOS. Não é a toa, né? As pessoas deste novo contexto tem uma obsessão INTENSA em gravar e filmar tudo. Tipo eu. Tipo você. E há um ranking de popularidade. Aya quer fazer parte desse ranking, mas ainda não sabe como e inveja seu irmão por ser um dos mais populares.

O enredo, fraco, desse livro é que Aya acaba por descobrir um grupo de garotas que NÃO QUEREM SER POPULARES. Evitam a todo custo a exposição. Isso, por si só, não tem efeito algum, Contudo, essas garotas são que nem aqueles paulistas (só lembro de paulistas, desculpem-me) que surfam nos trens. Elas fazem O MESMO! Isso é algo tão arriscado que provavavelmente, pensa Aya, se conseguisse filmar faria com que ela ascendesse rapidamente aos primeiros lugares do ranking.

A história se desenvolverá a partir daí. Será que as garotas vão descobrir que Aya só quer filmá-las? Num desses surfs nos trens, o grupo acaba passando por entre uma montanha e encontra um grupo de SERES roubando o metal. Que seres são esses? Humanos? E por que estão roubando metal? Pretendem iniciar uma guerra? O que era apenas uma filmagem de adolescentes se arriscando torna-se uma teoria conspiratória com diversos agravantes.

Assim como nos outros livros, as cirurgias estéticas e cerebrais estão disponíveis  A "honestidade radical", cirurgia que altera a mente para tornar a pessoa INCAPAZ DE MENTIR, é a mais engraçada de todas. Quero muito ver isso num filme. É só você imaginar aquele filme do Jim Carrey, O MENTIROSO.
A ausência de Moggle [a câmera voadora de Aya] a deixou duplamente receosa. Era assustador pensar que nada daquilo estava sendo gravado. O que quer que acontecesse teria acabado na manhã seguinte, como um sonho. Aya sentiu que estava isolada no mundo, que ela mesma não existia.
Esse artefato de Aya, Moggle, como não lembrar do GOOGLE GLASS? Filmando tudo, 24 horas por dia. Além disso, Moogles são também o nome de criaturas fictícias da série Final Fantasy. No Final Fantasy 7, por exemplo, há um único Moogle que consegue se comunicar com humanos. Igual a câmera de Aya.


Se uma árvore cai e ninguém vê, então não faz barulho; o mesmo vale para uma única mão batendo palmas. A pessoa tem que ser vista antes que exista de verdade.
Gostei muito da definição de EXPANSÃO usada pelo antagonista deste livro (que não irei contar quem é!). Ele diz que "expansão é a palavra dos deuses para o crescimento, mas a bola do mundo não cresce". Reflita. O mundo não cria novos espaços para abrigar a população, mas aparentemente achamos que sim. Não é um crescimento sustentável. E novamente o problema ecológico é mencionado na história. Uma constante na série, mas dessa vez sem tanto maniqueísmo.

Pra mim esse é o livro mais legal da série e é perfeitamente possível lê-lo sem ter lido os três anteriores. Espero que, caso ocorra um filme, esse seja o primeiro, contando o FUTURO DO FUTURO e os antecedentes sirvam para explicar a mitologia da série (dizer quem é Tally, porque o mundo ficou daquele jeito, etc etc).

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