BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2009. p.137-172

A ideia principal do fragmento de texto analisado é mostrar as dificuldades dos professores de história em selecionar os conteúdos que serão dados em sala de aula. Há um embate entre o conteúdo tradicional, vindo “de cima”, do governo, e o conteúdo significativo, que remete a adequação, por parte do docente, em compreender o ambiente escolar que o cerca.
O consenso geral da impossibilidade de se estudar toda a história da humanidade é o que faz a autora incentivar que o professor selecione conteúdos significativos para sua turma
O docente deve ficar atento a produção historiografica para se manter informado dos assuntos em voga. É assim que desenvolverá seus critérios que manterão ou abolirão determinados conteúdos.
Após essa breve introdução, Bittencourt começa a explanar sobre os mais variados conceitos e/ou formas de ver a História. Isto refere-se a primeira parte (de três partes) do texto, conteúdos escolares e tendências historiográficas.
O primeiro deles é a história como narrativa. Influenciado bastante pelo positivismo, tem como meta recolher, ordenar cronologicamente e narrar os fatos. Utiliza-se de documentação “oficial” e tenta se manter a parte dos julgamentos, buscando criar uma “história verdadeira” baseada numa suposta neutralidade do historiador.  As pessoas ou locais são os motores das transformações. Há uma valorização da história politica e militar. Sua principal figura é o prussiano Leopold Von Ranke.
Walter Benjamin critica essa postura exclusivamente narrativa e propõe que haja também uma reflexão e interpretação dos fatos históricos. Benjamin também critica a mídia jornalística que, com seu conteúdo “mastigado” em formas de noticias sucintas, não dão margem para a interpretação.
Neste período surge uma problema: como diferenciar uma narrativa ficcional de uma narrativa histórica? Segundo a autora, “os traços da narrativa histórica distinguem-se pela intenção de aprofundar a realidade, pela busca documental e cuidado metodológico, pela extensão de seu projeto e de suas problemáticas (provenientes da história-problema), que evidenciam personagens representativos de grupos sociais, e pelas temporalidades mais complexas” (p.143).
O segundo conceito sobre história envolve o aspecto social (Escolas dos Annales) e o econômico (Marxismo).
O movimento de Annales tem como seus principais expoentes Marc Bloch e Lucien Febvre. Acreditam que a história deve fornecer respostas as demandas do tempo presente. Para isso trabalham com história-problema e a história das mentalidades coletivas, onde pretendem entender as ações individuais num contexto mais amplo.
O Marxismo trabalha com conceitos de estruturas sociais, modos de produção, formação economica-social e classes sociais. Acreditam que individuos sozinhos não promovem a mudança.
O historiador brasileiro Ciro Flamarion cita semelhanças entre essas duas correntes historiograficas: “o abandono da história centrada em fatos isolados e a tendência para análise de fatos coletivos e sociais, a ambição em formular uma síntese histórica global do social, a história entendida como “ciência do passado” e “ciência do presente” simultaneamente, a consciência da pluralidade da temporalidade - tempo do acontecimento, da conjuntura e da longa duração ou da estrutura” (p.146)
O historiador E. P. Thompson realiza criticas ao Marxismo, pois, segundo ele, não era possível criar modelos e aplicá-los a diferentes épocas e locais. A partir destas criticas, o Marxismo repensa a si mesmo e passa a articular o conceito de classes sociais com cultura.
Outros conceitos abordados nesta mesmo período são a história social, “história dos vencidos”, nova história (abordagem próxima a sociologia) e micro história.
O terceiro tipo de história, segundo a ótica de Bittencourt, é a da história cultural. Esta fez com que muitos historiadores se aproximassem da antropologia de vez. Se antes a história era pensada após o surgimento da escrita, agora não mais. Trabalha-se com memória oral, lendas, mitos e objetos materiais. Uma verdadeira expansão do conceito de história. Pretende-se também vincular a micro história com a macro, criando assim uma nova história cultural.
Michel Foucault, um dos expoentes deste período, trabalha com a questão do poder em suas diversas esferas. Ressalta-se o fato de que coexistem micropoderes nas mais variadas estruturas sociais (na família, na escola, nos presídios, etc).
Por fim temos a história do tempo presente (ou o presente como história). Esta ainda sofre bastante criticas, como a de interpretar assuntos no calor do momento e do envolvimento emocional do historiador com o fato histórico. Todavia, contribuiu para elevar a um novo patamar a história politica, antes vistas apenas pelo olhar das grandes figuras (reis, presidentes, etc). Bittencourt alerta para o enorme cuidado que deve-se ter ao trabalhá-la, principalmente no tocante ao anacronismo, ou seja, utilizar de conceitos do tempo presente em épocas cujo mesmo não havia.
Na segunda parte do excerto de texto trabalhado, Bittencourt problematizará a polarização entre o estudo de uma história nacional e o de uma história mundial.
A autora alega que o culto a globalização faz crer que estudar a história nacional é desimportante ou atrasado. A história do Brasil perde espaço para uma suposta identidade supranacional. Isto, segundo ela, deve ser balanceado. Deve-se evitar diluir os conteúdos sobre a história nacional na história mundial. Não se pode cair no erro de tornar a história do Brasil apenas um apendice, nem tentar explicar suas rupturas e continuidades baseados em uma ideia geral. Há de se lembrar que, na verdade, a suposta história mundial refere-se em sua maior parte a história da Europa. É necessário, portanto, a história do Brasil para percebemos as nuances de nossa história, desde um estudo sobre a história da África (um ponto de nossas origens), bem como uma história do Oriente Médio, sem o verniz do preconceito com os quais estes povos são tratados.
Por fim, na última parte do texto, a autora analisa a introdução da história do cotidiano e a história local. “A associação entre cotidiano e história de vida dos alunos possibilita contextualizar esa vivência em uma vida em sociedade e articular a história individual a uma história coletiva” (p.165)
Bittencourt ressalta que, no caso desta opção, é preciso ter cuidado com a forma de exposição. Não basta apenas relatar aspectos cotidianos ou da vida privada por sí só, mas sim vincular esta micro história com a macro. Os exemplos positivos citados pela autora são HIstória da vida privada no brasil, O queijo e os vermes, Montaillou: cátaros e católicos numa aldeia frances e Guilherme - o marechal.
A autora, por fim, também volta a destacar a importância da oralidade na história local, principalmente no tocante aos “lugares de memórias”, como monumentos, praças, edificios, etc, que possuem diversos significados para os habitantes. Destaca-se também a importância da geografia na conceituação da palavra “lugar”, não mais limitada apenas a aspectos econômicos ou impostos pelo estado através de divisões politicas.

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