BREFE, Ana Cláudia Fonseca. Os primórdios do museu: da elaboração conceitual à instituição cientifica. Projeto História. N. 17, p. 281-315, 1998.

O artigo de Ana Brefe traça uma história do conceito do que é o museu até a sua constituição como um espaço físico.
A autora começa seu texto citando a obra “Lês temps des musées”, de Germain Bazin. Este nos traz “Duas noções de temporalidade: aquela do tempo que irremediavelmente escoa e, uma outra, do tempo que dura”. Essa preocupação quanto a temporalidade que vai fazer o conceito de museu modificar-se.
A maior preocupação com a preservação e conservação está no centro da discussão sobre a memória nacional. Esta memoria está sendo questionada. Pierre Nora nos mostra “a idéia de patrimônio como algo polimorfo e em constante transformação” . Isto porque o “museu é o lugar em que a cultura material é elaborada, expostas, comunica e interpretada” , assim devemos refletir sobre as coleções e suas redes sociais.
O museu ainda é tido como o guardião da memória nacional, “um lugar de representação e legitimação da nação” . Contudo, essa forma de pensar está sendo alterada. O objetivo agora é não mais, somente, produzir e cultivar memórias e sim analisa-las em relação à sociedade.   Os museus devem preocupar-se não só com o aquilo que é preservado, mas também com os “restos”, o que foi excluído das exposições.

Dominique Poulot nos traz três modos de abordagem entre uma determinada sociedade e suas instituições culturais. A primeira é que “o caráter das coleções publicas corresponde àquele das estruturas sociais que lhe deram nascimento” .  A segunda mostra esse caráter como um conflito de interesses. A terceira é a de que este caráter pode ter múltiplos significados para aquelas que a contemplam.
O habito de colecionar faz com que os objetos inseridos dentro de uma coleção percam o seu valor de uso e passem a ser elementos simbólicos.
As formas de analisar as coleções são duas. A formalista “consiste em aplicar formulas contemporâneas as sociedades passadas” , enquanto a Substantiva “rejeita a imposição de conceitos, tomando o objeto como um dado objetivo universal” .
A abertura das coleções reais na França se deu em 1750 com o Museu de Luxembourg. O critério que marca a disposição dos objetos é o ecletismo.
Após o fechamento desse museu, surgem as primeiras idéias para a criação de um museu no Louvre. Este projeto tem uma finalidade patriótica e pedagógica.
Quanto à disposição das obras e ao espaço físico no museu, não se chega a um consenso. O que se sabe, nesta época (século XVIII) é que o local deve oferecer espaço, iluminação e segurança para as obras.
A Encyclopédie, do século XVIII, define museu como “todo lugar onde estão guardadas coisas que têm uma relação imediata com as artes e as musas”.
A pratica da coleção é anterior ao período renascentista. O acumulo de bens na antiguidade clássica e medieval é o pressuposto para as futuras coleções que serão adquiridas pelas classes mais elevadas. Alguns objetos colecionados são trazidos dos confins do mundo conhecido e geralmente estão relacionados a poderes mágicos , traduzindo um fascínio pelo exótico.
O interesse italiano nos museus é para garantir a salvaguarda do patrimônio nacional. Na Alemanha, a preocupação é de assegurar um lugar no discurso da arte.
É mostrada a relação entre o museu e as bibliotecas. Essa relação se dá devido ao fato de ambos exercerem funções paralelas e pelo viés da memória.
No final do século XVIII ocorre a separação do poder político das coleções do monarca. Este é um dos passos para a criação do museu público.
A palavra museu é descrita como sinônimo de gabinete ou também como sinônimo de coleção. A palavra francesa muséum surge para designar as coleções que são públicas, diferindo-se assim da outra palavra francesa musée, que faz referência as coleções de um príncipe/monarca. Elas não têm a ver com o conteúdo, mas apenas com o caráter publico ou privado. “A palavra [museu] é sinônimo de todo lugar de aprendizado intelectual superior – contendo ou não uma coleção de obras de arte, de objetos científicos e técnicos, de peças de história natural...”

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