História e Cinema

As Imagens na História

A idéia de se trabalhar com fontes históricas não-verbais nasceu ainda no século XIX, mas somente no começo do século XX, com o surgimento dos Annales, foi que essa proposta foi posta em prática mais amplamente. Seguindo essa linha, de se analisar fonte não-verbais, passaram a constar como documentos históricos as fotografias, gravuras, pinturas e também o cinema. Para esses historiadores, tudo que o homem faz, ou fez no passado pode ser interpretado como fonte histórica. Partindo desse principio, o documento visual ganha força, passando a ser o próprio objeto de estudo, ou em muitos casos um objeto auxiliador de uma pesquisa.
Esta ampliação no que pode ser considerado uma fonte histórica abre portas para uma transformação da história tradicional baseada em documentos escritos, e permitiu a aproximação da História com outras ciências humanas, no sentido de desenvolver uma metodologia apropriada para o estudo dessas novas fontes visuais.

A Semiótica e os Ícones

O estudo da semiótica, ou arte dos sinais, nos mostra que o cinema é uma forma de comunicação de fácil percepção, ou seja, um telespectador leigo consegue entender as mensagens do filme que lhe é mostrado, pois estas se mostram claras e inteligíveis.
Outro aspecto importante, e que ajuda na compreensão de uma fonte visual não escrita são os Ícones. É através dos ícones que um aspecto da realidade é representado. Um ícone pode representar uma pessoa, um objeto, ou até mesmo uma cultura inteira, mas essa representação nunca será completa, sempre será uma imagem parcial do que nos mostra a realidade.

A análise da fonte

Ao analisar uma fonte visual não-textual, o historiador deve ter os mesmos cuidados que se tem com um documento textual. Por exemplo, ao considerar o cinema como uma fonte, devemos atentar para vários aspectos importantes como o contexto em que certo filme produzido, quais são as mensagens que ele nos passa, e o que o diretor escolheu para deixar de fora do seu filme. Todos esses dados são importantes tanto para o exame de um documento textual, quanto para o exame de um documento não textual.

Cinema e História

Para o historiador Marc Ferro, o cinema é uma manifestação da época em que o filme foi produzido, pois vários agentes sociais estavam envolvidos na produção de um filme como o regime político que vigora e a audiência que o diretor espera atingir.
Christian Metz considera que o filme deve ser analisado como um texto levando em conta o seu caráter narrativo, ou seja, levando em conta seus diálogos, suas imagens, e seus efeitos sonoros, pois esses elementos auxiliam na compreensão de um filme.
Em um filme, existem pelo menos 5 sinais para quais o historiador deve estar atento, para que possa tornar aquele testemunho em uma mensagem clara, são eles:
- As imagens, que dão ilusão de movimento, onde cada peça de leitura implica muitas imagens;
- Os textos escritos, que podem ser as legendas de um filme em preto e branco, ou ainda placas, cartazes e bilhetes que são mostrados ao público.
- No domínio auditivo, as falas que fazem parte do filme são de grande importância.
- A trilha sonora, que ajuda na compreensão ou identificação de um certo filme. Por exemplo, o filme Tubarão, que é facilmente identificado pela sua celebre música tema.
- E ainda os ruídos que são selecionados, como tiros, o barulho dos passos de uma pessoa, etc.

Devemos atentar ainda, para os significados que nós damos para um determinado filme. A época em que ele foi produzido deve ser levado em conta, pois os valores embutidos naquela sociedade, seus medos, suas esperanças, podem não ser os mesmos valores da sociedade vigente. Ou seja, um filme dos anos 50 causa um impacto diferente nos telespectadores de hoje, se comparado ao impacto causado nos telespectadores da época em que esse filme lançado.
Um exemplo dessa mudança de valores, é o filme Piratas do Caribe, onde o pirata, que possuía um valor pejorativo nos filmes, era visto como bandido, assassino, agora se torna o mocinho, o personagem central, sem o qual a trama não sobrevive.

Conclusão

Concluímos então, a partir desse estudo, que a idéia de se trabalhar com fontes visuais não-textuais se deu ainda no século XIX, mas os estudos nesse sentido só amadureceram no século XX, principalmente com os Annales. Vimos ainda que ao considerarmos as imagens como fontes, temos que ter os mesmos cuidados de quando analisamos um documento escrito, procurando estar atento também aos agentes sociais que influenciaram na produção daquela obra.

Observamos também, que ao levar em conta o cinema como fonte histórica, o historiador tem pelo menos 5 sinais para descodificar, e transformar aquele filme em uma mensagem clara e de fácil percepção, e que devemos tratar com atenção o fato de que os valores da sociedade mudam ao passar do tempo, e por isso os significados atribuídos a um certo filme mudam também.

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