MELLO, Evaldo Cabral de. O fim das casas-grandes. História da vida privada no Brasil: Império. (Coord. Fernando Novaes; Org. Luiz Felipe de Alencastro). São Paulo: CIA das Letras, 1997. p. 385-437.

Evaldo Cabral de Melo relata em seu texto a vida de dois notáveis senhores de engenho de Pernambuco durante o período imperial. Um dos relatos, o do Barão de Goiana, foi feito pelo genro e sobrinho, acarretando assim uma tentativa de passar uma visão de “perfeição” do Barão, um modelo a ser seguido por todos. O outro relato, referente ao Barão de Goicana, foi extraído do seu diário pessoal.
Sobre Rego Barros, o Barão de Goiana, seu sobrinho e genro, João Alfredo, nos mostra que o objetivo da “biografia” era homenagear o sogro, pois este o ajudará em sua carreira política. Havia um tom de melancolia devido a transição para o regime republicano, trazendo uma sensação de nostalgia pelo sistema anterior.
Rego Barros é tratado como um “individuo intensamente privado”, paradoxal ao seu caráter de homem publico. È mostrado que ele teve o papel de cuidar de sua mãe, pois esta era viúva. Cuidou também de arranjar casamentos para as irmãs. No seu caso, Rego Barros “casou-se numa família de português abastado”. Era um individuo que gostava de festas e divertimentos. Em suma, bastante “gregário”.
Os planos de educação para os filhos diferiam das filhas. Os primeiros eram voltados para o estudo no sentido de se tornar um profissional. Para as mulheres, o objetivo era encontrar um bom casamento.
O paternalismo do Barão de Goiana exercia-se no âmbito financeiro, ajudando parentes e pessoas do clero, e político, como no caso já citado do sobrinho que escreve sua biografia e quando doou propriedades para que a candidatura de Nunes Machado não fosse impugnada.
O diário de Acióli Lins, Barão de Goicana, foi escrito durante um período de intensa produtividade dos engenhos da época. Suas relações sociais são praticamente entre os membros da família e amigos consangüíneos, diferente de Rego Barros. O membro mais admirado por ele era o seu irmão e a afeição se voltava para o seu filho caçula. Sua família tinha alguns problemas de saúde, como as crises de histeria da filha, infecções da garganta na nora e a epilepsia do filho João batista.
Alguns aspectos que podemos relacionar sobre a vida dos dois barões são os seguintes: ambos aumentavam o seu patrimônio investindo em imóveis; em ambos os engenhos o cultivo da terra era partilhado entre o senhor do engenho e os lavradores; usavam do conhecimento empírico para tentar prever os acontecimentos ligados ao meio ambiente; as relações com o mercado são intermediadas por um correspondente nos dois casos.
Quanto aos trabalhadores do engenho, são todos livres, mas os registros transmitem uma “impressão de anonimidade”. Havia os funcionários do engenho propriamente dito, responsáveis pela produção de açúcar, os da fazenda, incumbidos do cultivo e limpeza do campo e os moradores e assalariados responsáveis pela plantação e pela moenda. Estas são as categorias que vivem dentro da propriedade. Fora dela podemos citar os lavradores, artesãos, ferreiros, pedreiros, jornaleiros, feitor, purgador, destilador, mestre-de-açucar, banqueiro, tacheiro, caldeireiro, operários, caixeiro, etc... todos, de uma forma ou de outra, responsáveis pela manutenção do engenho.

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