SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 17-88.

O capitulo 1 da obra de Nicolau Sevcenko é dividido em três partes: Carnaval na Babilônia, Mobilização Permanente e Do Águia de Haia ao Águia dos Ares. Trata da São Paulo do fim dos anos 1910 ao inicio dos 1920, abalada por pragas, doenças, geadas, mas que vislumbrava um futuro brilhante.
Carnaval na Babilônia trata da questão da identificação dos residentes na cidade. São Paulo é comparado a Babilônia por atrair os mais diversos tipos de gente. Contudo, para as classes excluídas, é traçado um paralelo com o cativeiro da babilônia. “Complexa é a conjuntura cultural”. O inicio da tomada da consciência de identidade ocorre com o desenvolvimento descomunal da cidade, ressaltado pela mídia.
É mostrada também a questão de como várias pessoas ocupando um mesmo espaço e a mesma época vêem as situações cotidianas de diferentes perspectivas. Essas perspectivas são retratadas por dois jornalistas: S. e P. O carnaval e as enchentes são citados como exemplos em suas crônicas.
Uma mudança na forma de pensar ocorre: repousar no fim de semana é visto como uma perda de tempo. A revigoração não se dá mais no repouso e sim na ação.
A segunda parte do capitulo, Mobilização Permanente, retrata como as atividades físicas moldaram a sociedade da época. A mentalidade surgida no pós-guerra de que “quanto mais se aperfeiçoassem, regulassem, coordenassem esses maquinismos, tanto mais efetivo seria o seu desempenho e mais concentra sua energia potencial” fez com que o culto ao corpo e a saúde proliferasse. O desenvolvimento esportivo atingia, em maior ou menor escala, todas as camadas sociais.
Os militares da primeira guerra mundial tiveram papel importante nessa nova forma de ver os esportes. “A conexão intima entre o moderno ressurgimento dos esportes e as mobilizações militares ficou exposta de uma forma cristalina no contexto da grande guerra” .  O exemplo maior disso foi a participação dos franceses que defenderam seus país na guerra na olimpíada de 1922 na Antuérpia.
O modismo do esporte trouxe uma mudança no vestuário e na aparência daqueles que praticavam, inclusive mulheres. A criação de clubes esportivos foi a válvula de escape para o surgimento de tantos novos atletas. As autoridades oficiais tiveram papel-chave neste boom esportivo, tendo até contratado especialistas do exterior para a manutenção dos atletas, sem falar de materiais, modalidades, técnicas, etc.
A paixão pelo futebol é retratada. Os estádios lotados, mesmo sob a chuva torrencial, contagiam os escritos dos jornalistas. A figura do jogador brasileiro como melhor do mundo já começa a despontar: “os jogadores brasileiros evidenciaram possuir as melhores qualidades que se pode desejar em footballers, qualidades que só eles, e nenhum outro povo, resumem todas”. Trata também da questão da violência e do “torcimento”, momento no qual o torcedor ficava alheio a tudo que estava ao seu redor e concentrava-se apenas no jogo.
A última parte do capitulo, Do Águia de Haia ao Águia dos Ares, trata do desenvolvimento automotivo após o fim da guerra, o gosto pelo automobilismo (envolvendo os grandes prêmios e a mais famosa prova, 500 milhas de Indianápolis), o inicio da era da aviação em São Paulo e os estimulantes..
O automóvel na cidade passa a ser “usado de forma a acentuar a sua mística e se importa como uma moldura mecânica, sofisticada do poder, mesmo na mão de choferes e empregados de companhias.” A Avenida Paulista, asfaltada, torna-se palco de corridas. Torna-se palco de tragédias e os jornais repudiam esses “rachas”.
“O batismo do ar” marca a era da aviação em São Paulo e se torna moda. Seus precursores são os pilotos franceses Lafa e Verdier. Orton Hoover é o primeiro a “oferecer vôos diários pelos céus da cidade.” Edu Chaves, brasileiro, participou da guerra pela legião estrangeira e adquiriu novas técnicas, sendo um “misto de engenheiro, esportista e herói militar.” Seu destaque é por ter feito o percurso Rio-Buenos Aires, vencendo uma disputa contra os argentinos que tentavam o feito inédito.

A questão dos estimulantes refletia os hábitos paulistanos: Café, para agüentar o ritmo de trabalho; Chá, para o relaxamento; Coca-Cola, Guaraná, Cigarros. Cogitou-se até uma lei Seca nos moldes da americana para evitar o consumo demasiado de Álcool e Cachaça. Fala-se também do trafico de ópio, cocaína e morfina. A jogatina e a prostituição também estavam no cotidiano da cidade.

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