Um Neves feminino: 1932 a 1975

Resumo

O texto mescla fontes orais, documentais e iconográficas de modo a mostrar os aspectos de um colégio inteiramente feminino (Colégio Nossa Senhora das Neves). O trabalho inicia-se mostrando um panorama superficial da educação no Brasil e a chegada das Filhas do Amor Divino ao Nordeste, bem como o processo de formação da escola em questão. A partir disso, foram confrontados os depoimentos orais da ex-aluna do período de 1972 a 1974, Ana Cecília Lins Monteiro, com o da Irmã Nivalda Montenegro, que trabalho na escola entre 1962 e 1963. Mostrar-se-ão as mudanças que ocorreram no período das entrevistadas (se houve e quais foram). Por fim, será mostrado através dos depoimentos como se deu a introdução das turmas mistas no colégio e qual seria a problemática envolvendo família e escola neste aspecto. O uso da iconografia ilustrará o trabalho.

Palavras-Chave:

Colégio Nossa Senhora das Neves – Educação Feminina – Nordeste – Natal - Memória – História Oral.

A Educação no Brasil

O surgimento de uma educação sistemática no Brasil começou muito cedo, já no século XVI, durante o período colonial. A missão dada aos jesuitas, na figura da Companhia de Jesus, foi realizada até a época das Reformas Pombalinas, no qual foi institucionalizado a educação laica, sem interferência da religião no ensino publico.
Em Natal, o Colégio Nossa Senhora das Neves vivenciou três fases educacionais durante o período em que foi uma escola predominantemente feminina, entre 1932 a 1975: a época do Estado Novo (1937-1945), a República Nova (1946-1963) e o Regime Militar (1964-1985). Estes períodos, em geral, foram marcados pela gratuidade do ensino público, criação do SENAI e do SENAC, o surgimento do Ministério da Educação e Cultura, campanhas de alfabetização, entre outros. O Regime Militar interrompeu as novas tendências na educação brasileira, julgando-as comunistas e subversivas, impedindo o avanço do sistema publico.

As Filhas do Amor Divino

A história do Colégio das Neves, contudo, começa muito antes, no século XIX, mais precisamente em 21 de novembro de 1868. Nesta data é fundada a Congregação das Filhas do Amor Divino pela Madre Francisca Lechner, em Viena, na Austria. Esta congregação tinha o objetivo de:

“Acolher estas jovens que chegavam do interior em busca de emprego na capital, totalmente desamparadas e entregues à própria sorte, preocupada também com a educação de meninas e com o desejo de amparar idosos
Atualmente esta congregação atua em mais de 18 paises, na Europa, África, América do Norte e América do Sul.
A chegada ao Brasil desta congregação acontece no Nordeste, no ano de 1925. Em dezembro de 1938, 13 anos depois, é criada a província Nossa Senhora das Neves, com sede em Assu. A mudança de sede para a atual, em Emaús, ocorre em fevereiro de 1972. Antes disso, houve uma segunda sede, em ordem cronológica, na cidade do Natal, a partir de janeiro de 1950.

Os primeiros passos no RN e a fundação da escola

Lideradas pela Irmã Teresina Werner, as irmãs que aqui aportaram em 1925, seguiram para Caicó, interior do estado do RN, de modo a iniciar os trabalhos da província que ainda não havia sido implanta oficialmente.
O trabalho feito por estas irmãs em Caicó era o de evangelização pela educação. Durante 7 anos ininterruptos realizaram este ato, mas em 1932 uma grande seca assolou o nordeste, fazendo com que as irmãs, sem dinheiro, recorressem a ajuda do Bispo Diocesano, Dom Marcolino Esmeraldino de Souza Dantas.
Graças aos esforços do bispo e dos padres Augustinus e Frederico Pastor, conseguiu-se uma casa que serviria como residência para as irmãs. Além disso, os padres do colégio Sagrada Família contribuíram com outra área, esta servindo para as atividades da escola.
Em 5 de Janeiro de 1932 o Colégio é fundado, atendendo a 136 alunas do curso primário. Sete meses depois, em agosto, dia de Santa Maria das Neves, foi instituído o nome da escola que perdura até hoje: Colégio Nossa Senhora das Neves
Em 1 de Setembro de 1932, o colégio já em funcionamento, contava com 26 alunas no ensino particular. No ano seguinte, contava com 92 alunas externas e 14 internas.

A atual localização e as atividades escolares

Em Janeiro de 1935 começou a construção do prédio que até hoje abriga o Colégio das Neves. A estrutura antiga já não comportava mais tantas alunas e a busca de vagas para o colégio era muito grande.

“A educação oferecida pelo Colégio das Neves, por haver adquirido os foros de Instituição devidamente reconhecida e respeitada, que já não podia ser omitida da lista dos principais estabelecimentos de ensino do país, aureolada por uma tradição de serviços à fé e à cultura potiguares, tomava consideráveis proporções, ultrapassando as fronteiras potiguares, atraindo, por conseguinte, famílias de Estados vizinhos.”
Em 1937 a nova estrutura começa a funcionar. O colégio contava com as disciplinas básicas do atual ensino médio (Matemática, Física, Química, Biologia, Português, História e Geografia), além de:

“Cursos primário, ginasial e comercial, além de outras atividades como curso de piano, acordeon, datilografia, línguas (inglês, alemão e francês). Anos depois instala cursos de pintura, costura, bordado e flores.

Segundo o site do colégio, as alunas também tinham aulas de etiqueta, fundamentos religiosos e trabalhos manuais, mas isto não quer dizer que a educação do colégio era voltada para o lar. Nas palavras da Irmã Nivalda Montenegro, não se podia comparar o tipo de educação dada pelo Neves em relação a Escola Domestica:

“A Escola Domestica foi criada para educar a mulher não só intelectualmente, mas para ser dona-de-casa. Hoje, isso... você come no self-service... e assim por diante. (...) Mas as outras escolas não. A preocupação era da formação feminina sim, mas não domestica.”

A preocupação com a etiqueta foi explicitada pela Irmã em um trecho do depoimento, ao citar o exemplo das aulas de piano:

“Por exemplo, o piano: você recebia álcool para passar nas mãos para não sujar o teclado. Não era você chegar e sentar, não! Tinha uma postura de você sentar durante toda aula, e era com partitura, você não podia estar tirando música de ouvido! Era com partitura. Era um ensino clássico. As salas de aula elas eram limpíssimas. Você nem pensava em jogar um papel no chão. Porque aquilo entrava... era todo um conjunto que estava trabalhando na mesma direção. Você nem pensava em riscar uma carteira. Não, isso era uma coisa extraordinária e era chamado pai e mãe e toda a família para resolver aquele problema. Então, a noção de ordem, a noção de disciplina era muito forte..”
Local das aulas de piano

A relação com escola e família

Percebe-se hoje em dia certo “desleixo” por parte dos pais em estar presente nas atividades de seus filhos. Seja por culpa das obrigações trabalhistas, seja por falta de tempo, seja por outros motivos, não há hoje um acompanhamento da educação das crianças. Irmã Nivalda Montenegro diz que na década de 1960 havia uma parceria na educação entre família e escola, ambas tendo suas parcelas de responsabilidade com as crianças:

“Agora havia uma sintonia quase perfeita com os pais. Só pra dar um exemplo: eu me lembro de uma das irmãs, ela era austríaca, Irmã Aquinata Eibel, muito conhecida, faleceu, e ela quando chegou estava ensinando História e Geografia para os pequeninos. E ela sabia muito mal o português. Exatamente foi ensinar os pequenos para aprender o português com eles. E dando aula ela disse que o Brasil antes [da chegada dos portugueses] era habitado pelos SELVICOLAS. E uma irmã daquela criança pequena, que já era do ensino médio, quando viu aquilo... e a família era uma família que tem doutores em história e tudo... quando chegou em casa, a menina, repetindo a lição que a professora ensinou: "os SELVICOLAS nãoseioque, nãoseioquelá...", "Que SELVICOLAS, menina? SILVÍCOLAS". O pai chamou "Minha filha, quem foi que disse isso a você?", "Foi irmã Aquinata", "Minha filha... a professora disse, está dito. Vá ao colégio, chame a irmã, que é estrangeira, e ensine a ela como usa. Mas não tire a autoridade da professora." Você imagina hoje? Hoje o pai era o primeiro que viria aqui. Isso fazia uma grande diferença porque não é que os professores não fossem exigentes. Eles eram. Mas eles sabiam que eles contavam não só com a escola, mas com a família. Isso fazia uma grande diferença.”

Outra questão importante mencionada pela Irmã é que as pessoas buscam um colégio católico, mas não são católicas, gerando um choque na educação doméstica e a educação escolar:

“A escola é pra complementar. Sobretudo se você, na sua casa, recebe um tipo de educação que não combina com o da escola, você entra em choque. Muito dos problemas são exatamente isso. Há pais que colocam em escola católica não por ser católica, [mas sim] porque é um ensino de qualidade. E gera conflitos. Sobretudo nos adolescentes.”


O corpo docente

O colégio relatado pela Irmã Nivalda, no período de 1962-1963, tinha somente um professor leigo, o de letras francesas. Aos poucos foram ingressando outros professores leigos, como os de Matemática e Biologia. No entanto, a predominância no corpo docente era feminina. Neste trecho do depoimento é citado a preocupação em passar todo o conteúdo do livro didático para as alunas.

“Uma diferença imensa é que como nós éramos todas religiosas, as professores, era só uma turma de cada série. Tinha o primeiro do ensino médio, que era o primeiro científico na época. Primeiro científico, segundo científico e terceiro científico. No primeiro andar. Então não havia possibilidade de ter uma hora vaga nunca. Porque éramos irmãs. Se uma faltasse, outra substituía. Então nós dizíamos naquela época que nós dávamos o livro de ponta-a-ponta.”

Ana Cecília vem corroborar as palavras de Irmã Nivalda:

“Era um ensino muito puxado. No terceiro ano a gente tinha aula de manhã e a noite no colégio. Muito puxado. A gente ficava de manhã [no colégio], voltava pra casa, e ia de noite. De noite a gente tinha 4 matérias, que era Biologia, Química... não me lembro. (...) [o contato com] Os homens era só com os professores (...) Eu tinha Hildenberg, professor de matemática, Ricardo Curioso, professor de Biologia, Geraldão, professor de História (...) ”
Rigidez escolar

Baseado nos depoimentos, um dos motivos que levavam as famílias a escolher o Colégio das Neves para educar suas filhas era por ser uma escola aberta, receptiva a novas idéias. Como bem ilustra os depoimentos de Ana Cecília :

“Era muito rígido naquela época, mas era uma rigidez que a gente não se sentia amedrontada. Se sentia bem.”

e Irmã Nivalda:

“o Colégio das Neves era, já naquela época, era considerado muito aberto.”

Não se tem lembranças, por parte das entrevistadas, do uso de punições corporais no cotidiano escolar (palmatória).  Os problemas eram resolvidos por meio do diálogo e, em última instância, convocando a família para conversar. Esta liberdade era o diferencial do Neves em relação as outras escolas. Podemos supor que estes castigos acontecessem com mais freqüência nos colégios masculinos, devido a questão machista do homem “não poder chorar”, mas não temos como embasar esta teoria.

A estrutura

Na década de 1960, o colégio não tinha todas as dependências atuais.

“Esse lado onde funcionam as salas de aula, a secretária, a tesouraria, aquele lado ali, a frente, a capela... tudo basicamente era o mesmo. Essa outra ala de quem entra, a esquerda, foi ampliada e a parte hoje onde é o CENIC, etc. Havia já a quadra de esportes, não havia o caveirão [apelido da quadra poliesportiva], piscinas...”

Na década de 1970, pouca coisa se alterou. Continuou não havendo as construções da segunda quadra poliesportiva e do complexo de piscinas. Percebe-se a preocupação com o bem-estar dos que trabalham no colégio, pois pelas fotos presume-se que haviam vários locais para se sentar a sombra da árvore e poder conversar ou descansar nos horários de intervalo, além de servir como um campo amplo para diversas brincadeiras para as séries inferiores.

"Havia a capela, direção, secretária, casa das freiras. (...) Tinha a quadra coberta (...) E tinha um parque de mangueiras, jaqueiras, tinha tudo. Onde hoje está tudo construído ali [no parque], naquela época não tinha. Tinha chácara, muita plantação.”

Fardamento

Por ser um colégio exclusivamente feminino, era comum que as alunas tivessem saias como fardamento escolar. Temos até hoje o exemplo da Escola Domestica, no qual as garotas têm como uniforme a saia. No Neves da década de 1970 não era diferente, como relata Ana Cecília:

"Era saia. Mudou duas vezes. Quando eu entrei era uma sainha azul reta e uma blusa rosa. Aí no outro ano passou a ser uma saia azul também, mas uma blusa branca.”

Relacionamento com as outras escolas

Não havia um relacionamento com as outras escolas como há hoje. Atualmente vemos um professor dar aula em várias escolas particulares, mas naquela época isto não acontecia por diversos fatores (salários melhores, baixo custo de vida, identificação com a escola, etc). O momento em que havia uma aproximação entre as escolas era na época dos jogos escolares. Na década de 1960 não havia os JERN'S, pois os colégios particulares não enfrentavam os colégios públicos.
Ana Cecília lembra especificamente das brigas que aconteciam nestes jogos:


"Nos jogos entre colégios era briga de fechar o tempo. Atheneu e Escola Doméstica jogando ninguém perdia. Invariavelmente dava briga. Então a gente assistia no palácio dos esportes. (...) Era muito local. Assim: alunas do neves, alunas de outros colégios... Colégio das Neves não se misturava com o do Imaculada Conceição... Escola Doméstica é que não se misturava mesmo! Mas era uma rivalidade sadia.”

Irmã Nivalda vai mais além e trata da relação entre as instituições de ensino propriamente, reafirmando o que foi dito por Ana Cecília (não havia um relação entre as escolas), mas mostrando a situação atual (no qual as escolas católicas se reúnem para discutir os problemas em comum):

"Cada escola ficava no seu lugar. A própria igreja através do concílio mantem várias organizações. No nosso caso: CRB - Conferencias dos Religiosos do Brasil. Congrega os religiosos e religiosas de todas as congregações. Então nós temos um encontro mensal para discutir os problemas comuns, os interesses comuns. A AEC, por exemplo, Associação de Educação Católica. Então as escolas católicas se reúnem uma vez por mês para discutir temas de interesses comuns.


Destino das alunas

Segundo Ana Cecília, ex-aluna, a formação escolar era complementar. Não existia uma preocupação por parte das mulheres em fazer faculdade, mas sim em casar e ter filhos:

"Na minha época, da minha turma, muita gente não fez faculdade. Porque naquela época ainda existia assim “terminou, casou, vai cuidar de filho”. A escola era um complemento. A década de 70 já começou a despertar um espírito de profissionalismo nas mulheres. Então começamos a freqüentar faculdade, a entrar no mercado de trabalho. Mas até então a gente terminava o segundo grau e se dedicava a tomar conta de filho e bordar... trabalhos manuais. A faculdade mesmo não era prioridade como é hoje. Hoje se você não se formar, você não é nada, mas naquela época não! Mas se você fosse casada e tivesse filho, você tinha todo o respeito que você teria se fosse um profissional. ”


A visão de Natal sob duas perspectivas

Ao serem indagadas sobre como era a cidade de Natal, ambas as entrevistadas mostraram o quanto a cidade ainda era pequena, mas fizeram menção (direta e indiretamente) a vinda dos americanos para o estado durante a segunda guerra mundial.
Irmã Nivalda nos diz que:

"Natal acho que cresceu três vezes mais. O estilo de vida não mudou muito por que... você sabe que desde a segunda guerra mundial, com a influência dos americanos, é Natal antes da segunda guerra e é Natal depois da segunda guerra. Então isso naquela época praticamente era assim. Agora, claro, o conceito de família, o conceito de tudo era diferente. A família era um referencial. E eram normalmente quase todas as famílias bem constituídas. Hoje quando a gente olha...”

Enquanto Ana Cecília mostra que:

"Era maravilhoso, pequeno, todo mundo se conhecia. Ainda sou do tempo que se sentava na calçada para conversar. Tinha cinema... O Rex, o Nordeste e o Rio Grande eram os três cinemas importantes daqui de Natal (...) Quando passava um filme bom todo mundo assistia, todo mundo comentava o filme (...) Natal tinha um pessoal da aeronáutica que faziam aulas... aí depois vieram os oficiais. Muitas moças casarem com esse pessoal. Tinha o ABC e o América [os bailes] (...) Quando dava dez horas voltava pra casa. Os pais ficavam de olho. (...) O divertimento era muito limitado, mas o que tinha era muito aproveitado.”

Necessidade de turmas mistas

A introdução de turmas mistas nos colégios masculinos e femininos de Natal aconteceu, segundo Ana Cecilia, por uma necessidade da época.

"Por necessidade de haver uma difusão maior do ensino, de expandir, teve que ser arrecadados profissionais das escolas estaduais.”

Estes profissionais das escolas estaduais eram mais bem-preparados, justificando a igualdade na qualidade da educação entre os colégios particulares e públicos da época. Os interesses capitalistas, no entanto, arregimentaram estes professores para as instituições privadas de modo a atender a demanda de uma cidade em crescimento, aumentando o custo de um professor em uma escola pública e sendo um dos fatores para o sucateamento do atual ensino público.
É curioso perceber, no depoimento de Irmã Nivalda, que foram os próprios pais que solicitaram a introdução de turmas mistas nos colégios. Claro que havia aqueles que preferiam deixar seus filhos nos colégios para homens e suas filhas nos colégios para mulheres, mas:

"Antes de tudo foi uma exigência dos pais. Porque a vida foi se modificando muito. Então o pai achava muito complicado deixar uma filha aqui, deixar um filho no colégio Marista, outro no Salesiano... quer dizer, isso complica muito sua vida. Era muito mais prático você deixar os dois no mesmo colégio. Você vai ter só um tipo de aula, um tipo de filosofia... foi uma... eu não diria uma exigência, mas um pedido insistente dos pais do mundo inteiro. Do Brasil inteiro eu diria.”
Irmã Nivalda vai mais além e mostra como se deu o processo de construção de uma mentalidade familiar que aceitasse que homens e mulheres pudessem conviver juntos sem maiores problemas:

"Na época a gente mostrou pros pais que essa convivência sadia, no dia-a-dia, desde criança, prepara a menina para conviver com o sexo oposto. Com simplicidade, com naturalidade, sem se aproximar logo querendo namorar e assim por diante. Não! É uma convivência sadia, uma convivência normal. Isso a gente tentou muito mostrar. ”
Mas ressaltou a questão da vigilância:

"Agora é claro que sempre deve haver vigilância. Você não pode deixar... nem adulto nem ninguém. Tem que sempre estar de olho! ”

Outro fator que colaborou com a introdução das turmas mistas foi que estas, segundo Irmã Nivalda, já existiam no período da pré-escola. Desta feita, não houve um impacto muito grande nas meninas por terem que conviver com garotos. Este começo gradativo, desde a educação infantil, de convivência ajudou muito na adaptação.
O preconceito também existia: muitos pais preferiram não botar seus filhos em colégios que foram femininos por medo dele tornar-se homossexual. Um colégio com maioria feminina não era bem-visto pelos pais. Irmã Nivalda destaca a questão do machismo da sociedade patriarcal nordestina, mostrando que os meninos deviam estar sob a liderança masculina.

Comparação entre meninos e meninas

É inevitável questionar como foi o relacionamento entre garotos e garotas na introdução das turmas mistas. Irmã Nivalda não presenciou isso no Colégio das Neves, mas em outras instituições de ensino católico no Ceará e na Paraíba e tem a seguinte opinião sobre o assunto:

"Dizem que as alunas aprendiam mais quando era só feminino e os meninos só quando masculino. Mas eu também já ouvi uma opinião muito forte de que, sendo misto, as meninas se esforçam para mostrar para os meninos que elas não são inferiores. Pelo contrário, que elas são superiores. Que a mulher era mais inteligente. Então há essas duas correntes."”

Ana Cecília, que estudou até 1974, último ano do Neves predominantemente feminino, fala da questão dos colégios masculinos e femininos em Natal:

"O Salesiano era só rapazes, o marista era só rapazes. Existia colégio para meninos e colégio para meninas. A única coisa que mudava eram as escolas públicas... a maioria dos colégios particulares como Marista, Salesiano, Colégio das Neves, Escola Doméstica... era tudo assim.”

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