VIANA, Helder do N. Os usos do popular: coleções, museus e identidades na Bahia e em Pernambuco, do inicio do século aos anos 1950. São Paulo: USP-FFLCH-PPGHS, 2002. (tese de doutorado).

O capitulo estudado da tese monográfica nos mostra o contexto histórico dos estados da Bahia e Pernambuco e suas tentativas de criar uma identidade cultural com a qual a sua população pudesse se identificar. Assim sendo, os institutos locais e os museus são as válvulas de escape para esse desejo das elites locais de se fazer influenciar e ter seu nome escrito na história..
Os pontos em comum entre os dois estados estudados são as disputas políticas locais, de caráter tradicionalista, tendo o instituto histórico e geográfico e o governo estadual como exemplos, e a visão modernizante, mais maleável, provida pelos jornalistas. A busca de uma identidade cultural era o objetivo de ambas as visões.
O contexto da época nos mostra o declínio da aristocracia açucareira gerando um abalo no poder político local de ambos os estados. A dinamização da economia no sul do país influenciou as modificações nas cidades das províncias do norte.
No estado bahiano, os conflitos sociais, com ênfase no racismo, contribuíram para a formação do pensamento do museu da época. Havia o medo da africanização, ou seja, tudo ligado aos elementos negros era visto de maneira negativa. Os jornais eram os principais difusores desses ideais racistas. Tinha-se o contraposto da África selvagem com a Europa civilizada. O racismo, contudo, era diferenciado: havia os negros dos clubes, ordeiros e organizados, que não “envergonhavam” e os negros de rua, rotulados de arruaceiros e selvagens. Estes eram perseguidos pela policia, principalmente pela sua religião, o candomblé. A delação destas práticas religiosas era vista com bons olhos.
No estado pernambucano, os conflitos estavam relacionados a segregação. De um lado a elite letrada e do outro as classes populares rudes. A principal queixa da elite foi a invasão dos espaços considerados elitizados pelas classes populares (o teatro, por exemplo). O sentimento de segregação se inflama quando a elite passa a ver os populares como empecilho na modernização da cidade. A partir daí, acontece a segregação física, visando o controle dos espaços da cidade, além das perseguições policiais contra os pastoris.
Em relação a construção dos institutos históricos e geográficos locais e a construção das identidades bahiana e pernambucana, mostra-se a proliferação de vários institutos locais e por conseguinte o surgimento de outras instituições, tais como arquivos, bibliotecas e museus.
A idéia inicial do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro era “se transformar numa unidade de dados estatísticos, remetidos pelas diferentes provincias”, de modo a contar uma história nacional. Isto não foi adiante, pois a noção de história regional era inconcebível neste modelo.
Os objetos materiais são de suma importância para os museus, pois se constituem elementos de imagem visíveis. O colecionismo agregou sócios para as instituições graças a possibilidade de se obter prestigio social.
As instituições eram responsáveis pela preservação e construção de novos prédios/monumentos, de modo a se identificá-los com o local.  As “romarias” foram importantes para inspecionar e controlar estes prédios, além de “instituir uma nova atitude em relação aos edifícios centenários”.

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