Tinder

Em 3 meses de Tinder, só duas doidinhas me deixaram com um friozinho na barriga. A primeira me deu chá de sumiço depois de três dias de conversa, mesmo depois de ter chamado pra casa dela. Acontece.


Foi a segunda que me deixou nas nuvens. Primeiro ela disse que gostou de mim logo de cara no Tinder e me passou o telefone, "o que não faço logo de cara". Eu tenho dificuldades em receber elogios, mas ela me disse ao menos em duas ocasiões que eu era "muito bonito", que meu sorriso era "lindo", que gostava do som da minha voz, o jeito que eu falava coisas aleatórias, me chamou pra ir a pipa quando o dinheiro saísse, sugeriu tirar uma dia pra cozinhar, beber e ouvir Laurinha Lero, fazer uma pizza juntos, um duo musical, disse que se sentia confortável em falar comigo, sem medo de ser julgada, e uma das primeiras questões que ela fez foi "pra onde você me levaria num date?" e disse ter amado minha resposta. Ah, ela também disse que tinha fetiche em professor e que ia dizer para os amigos que tava ficando com um. Eu respondi "sem ficar" e ela disse "ainda".


Respira. Se a pessoa diz, devo acreditar.


É natural as pessoas criarem por si só expectativas e projeções sobre o outro, tá tudo bem nisso, mas foram muitos indícios de que ela queria algo mais, no mínimo uma paquerinha. Com todo esse discurso, ela ajudou muito a alimentar minhas expectativas.


Chega no dia do encontro e pra mim tava tudo indo bem, exceto um cara aleatório pedindo pra eu pagar um misto quente porque ele tava com fome. Paguei, né?


Meu grau de nervosismo é muito grande quando tô perto de alguém que gosto e a primeira coisa que ela fez foi pegar na minha mão (porque a gente tinha se desencontrado sobre o local onde iríamos descer para a praia). Não relaxei como gostaria, porém fiquei feliz. Mais um sinal.


Daí em diante fomos conversando o caminho inteiro, o papo fluía do mesmo jeito que no whats e ela era ainda mais deslumbrante pessoalmente (o conjunto da obra, sabe?). Eu estava completamente entregue. Só que tenho um problema que é não saber quando agir. Já ouvi até histórias de outras meninas que não entendiam porque não fiquei com elas, sendo que nem sabia que essa era uma possibilidade (abraços, millynha!). Soma-se a isso o fato de ler muito sobre feminismo, consentimento... Sei lá, se não houver sinais claros e óbvios, eu tenho medo de fazer algo, de interpretar errado (e digo isso com plena consciência dos "indícios" que citei em parágrafo anterior).


Quando eu tava reunindo meus 20 segundos de coragem, já sentado numa praça e com o braço por trás dela, ela se afasta um pouco, diz que precisa ser sincera e que "não rolou química".


E aí diz que gostou de ter saído comigo, conversado, ouvido, etc, mas que era isso. Não sentiu química. Sequer nos beijamos. Perguntei posteriormente se química não tinha a ver com contato físico, mas ela disse que só não sentiu vontade. Que não era eu, que era ela.


Só fiquei em choque, né? Pra mim tava tudo bem e aí vem isso. Ela pediu pra eu falar alguma coisa, que ela tava se achando FDP, má eu só dizia que tava tudo bem, mas não tava (descobri posteriormente que isso se chama "ficar na defensiva"). Ela falou de outras coisas sobre ela, assuntos que já tinha falado antes no whats, mas não cabe aqui expor, só não pareceu uma desculpa convincente naquele momento, sabe? (Odeio usar a palavra "desculpa", como se fosse alguma obrigação, mas não encontro outra melhor no momento)


Seria mais fácil absorver um "te achei feio" ou "não gostei quando você disse tal coisa em tal momento" ou "você não prestou atenção no que eu falava", mas quando a pessoa diz que o problema é ela, parece coisa de filme. Insolucionável. Talvez o problema fosse ela mesmo, o que duvido, mas eu não vou deixar de me questionar se eu tivesse feito ou falado algo diferente durante o encontro, alguma coisa mudaria no final. E se eu a tivesse beijado logo de cara? E se o horário fosse outro? E se tivesse umas bebidas para descontrair? E se fizesse mais sombra ao invés de mais sol? E se... 

A pior parte desse "não deu química", pra mim, foram os elogios e planejamentos prévios. 

Mas é isso, né? Só eu posso controlar o meu mouse. Ouvi em um podcast que o sofrimento é a dor multiplicado pela resistência, sendo a resistência o quanto a pessoa rumina sobre aquele acontecimento. Analoo disse que isso é uma forma de luto por perder alguém (interessante, né? Acho diferente porque morte mesmo não tem jeito, mas não deixa de ser uma espécie de morte). Sei que já fazem 6 dias, os dois primeiros foram horríveis e depois tá ficando menos ruim, mas os "e se?" sempre voltam só pra encher o saco.


Isso tudo porque nem beijei na boca! Só criei um laço emocional. "Só" não, é muita coisa, mas enfim. Não sei ser só 50%, quando me abro é 100% e infelizmente não foi dessa vez. 

Não vou ouvir Riptide por um tempão e passarei longe de Taylor Swift.

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