Crônicas de uma morte anunciada
Não foi com surpresa que a turma observou o professor entrar em sala acompanhado de dois enfermeiros. Enquanto um arrastava-o em sua cadeira de rodas, outro ministrava uma dose cavalar de Red Bull, seu energético preferido, em suas veias. Red Bull te dá asas, lembra?
Todos da turma sabiam: seria sua derradeira aula, a última das últimas.
Seu semblante modificou-se em ligeiros quatro semestres: de substituto entusiasmado para substituto pragmático e deste para uma alma atormentada por exaustivas e intermináveis atividades fora - e dentro - do âmbito universitário.
Sua rotina era maçante: aulas matutinas, vespertinas e noturnas. Não tinha nem tempo de se alimentar adequadamente: vivia do café - fraco - da cantina do setor e dos biscoitos de água e sal que trazia consigo de casa.
Seu aspecto mudara tragicamente: antes um rostinho bonito que fazia as mais inocentes e estudiosas alunas devanearam em meio as suas divagações durante as aulas; agora uma medonha expressão de tormenta e angustia que trazia repulsa à todos.
Não foi difícil prever sua queda: emagrecimento, abatimento, barba por fazer, cabelos desgrenhados, pressionado por todos os lados e sem direito a uma mínima hora de lazer. Seu descanso resumia-se em cinco horas mal-dormidas com sonhos perturbadores: notas a serem aferidas, provas e trabalhos a serem corrigidos, discussões com os alunos, pendengas na ouvidoria, prazos a serem cumpridos.
Ele não achava que chegaria a este estado moribundo: pensou que daria conta de todos os seus deveres, ganharia muito dinheiro, teria prestígio no meio acadêmico e desfrutaria de uma aposentadoria polpuda.
Ledo engano.
As disciplinas impostas pela coordenação em seu último suspiro/semestre foram o fim da picada. Ter aceito estas tarefas mostrou-se uma decisão da qual não podia escapar. Ao dar um passo maior que as pernas, ele abraçou a morte - e não o mundo - e caiu no abismo do qual o fim seria sua tão inevitável e inesperada - para ele - morte.
Morria o homem do qual fez do seu trabalho sua vida e, não ironicamente, o trabalho a tirou.
texto feito em parceria com Luís. procuramos juntar todos os clichês possíveis!
Todos da turma sabiam: seria sua derradeira aula, a última das últimas.
Seu semblante modificou-se em ligeiros quatro semestres: de substituto entusiasmado para substituto pragmático e deste para uma alma atormentada por exaustivas e intermináveis atividades fora - e dentro - do âmbito universitário.
Sua rotina era maçante: aulas matutinas, vespertinas e noturnas. Não tinha nem tempo de se alimentar adequadamente: vivia do café - fraco - da cantina do setor e dos biscoitos de água e sal que trazia consigo de casa.
Seu aspecto mudara tragicamente: antes um rostinho bonito que fazia as mais inocentes e estudiosas alunas devanearam em meio as suas divagações durante as aulas; agora uma medonha expressão de tormenta e angustia que trazia repulsa à todos.
Não foi difícil prever sua queda: emagrecimento, abatimento, barba por fazer, cabelos desgrenhados, pressionado por todos os lados e sem direito a uma mínima hora de lazer. Seu descanso resumia-se em cinco horas mal-dormidas com sonhos perturbadores: notas a serem aferidas, provas e trabalhos a serem corrigidos, discussões com os alunos, pendengas na ouvidoria, prazos a serem cumpridos.
Ele não achava que chegaria a este estado moribundo: pensou que daria conta de todos os seus deveres, ganharia muito dinheiro, teria prestígio no meio acadêmico e desfrutaria de uma aposentadoria polpuda.
Ledo engano.
As disciplinas impostas pela coordenação em seu último suspiro/semestre foram o fim da picada. Ter aceito estas tarefas mostrou-se uma decisão da qual não podia escapar. Ao dar um passo maior que as pernas, ele abraçou a morte - e não o mundo - e caiu no abismo do qual o fim seria sua tão inevitável e inesperada - para ele - morte.
Morria o homem do qual fez do seu trabalho sua vida e, não ironicamente, o trabalho a tirou.
texto feito em parceria com Luís. procuramos juntar todos os clichês possíveis!
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