Crônicas Hiborianas

A história abaixo foi criada por PV, o mesmo cara que fez o banner aqui do Dias Comuns. Achei ela massa, mas como até hoje ele não me mandou a continuação, resolvi postá-la aqui. Quem sabe com os comentários (positivos, né!) ele não se empolga e pensa no resto da história. A ilustração é de Frank Frazetta


O que é um lar?

Minha mãe foi rainha tribal Vanir. Ela assumiu o comando da tribo quando seu marido se foi em combate. 1 ou 2 anos depois nossa tribo foi chacinada por aesirs, e ela, como única sobrevivente, foi levada como espólio e escrava sexual, pois era muito atraente.

Para a infelicidade daqueles desgraçados, o acampamento fora atacado na noite do mesmo dia. Eram hiperboreanos. Minha mãe lhes foi tirada, tendo sido pouco desfrutada por eles. Eles desfrutariam, agora, apenas da lâmina alheia em suas carnes podres.

A pele macia dela agora era acariciada por hiperboreanos imundos. Não foram muitos dias, mas o suficiente para que tivessem sido vários homens. Esses poucos longos dias terminaram, como que por alguma força do destino, com a morte ou ruína de todos eles. Talvez o meu espírito enfurecido estivesse tratando disso.

Após a morte de todos os filhos e filhas de Wothan III, o então rei da Hyperbória, o mesmo, aterrorizado, concluiu que minha mãe possuía alguma maldição, e ordenou que fosse executada. Nenhum carrasco se dispôs a matá-la, temerosos. E então o rei ordenou que a soltassem nas montanhas. E lá ela vagou até ser encontrada por algum povo que não sei o nome que habitavam algum lugar pela Nemédia.

9 meses depois eu nasci. Meus primeiros anos de vida foram ouvindo o choro e gritos de minha mãe, disso lembro bem. Os homens entravam, riam, gemiam, e ela berrava e implorava. Meus olhos eram azuis, como os dela, mas o meu cabelo não era aquele vermelho formoso e encantador... era negro, como o ódio, como o do meu pai, que nem sei quem é, mas, acima de tudo, como o ódio.

Lembro naqueles tempos, que eu engatinhava pela terra e chupava as tetas das cabras com força. Fui crescendo e meu hábito passou a visar búfalas. Um certo dia, com uns 12 ou 13 anos, entrei em casa, trazendo leite em um balde para minha mãe, perguntei algo a ela e ela não me respondeu. E após repetir algumas vezes e não obter resposta, percebi que ela não parecia consciente. Parecia em choque, deitada.

E percebi que ela estivera assim, desde sempre, só que eu nunca havia me dado conta disso. Fui me dando conta que as saídas engatinhando até encontrar cabras aconteciam porque ela nunca me dera o peito... E, pelo contrário, percebi que parecia que eu sempre trouxera leite até ela!

Os únicos momentos em que eu ouvia sua voz era em madrugadas frias, em que ela sussurrava com dificuldade o seu sofrimento, toda a história de seus últimos anos por horas.

Minhas mãos se fechavam, meus dentes cerravam, cada vez com mais força, à medida em que saía daquele estranho torpor. As veias saltando sobre os músculos precoces, construídos sob uma dieta excessivamente proteica e trabalhos braçais forçados extremamente exaustivos, evidenciavam a força que ja superava a de muitos homens realmente adultos. E esta força, meu amigo, estava somada a uma fúria ainda maior que ela.
Acertei a porta com um chute e ela foi arrancada das dobradiças, acertando e derrubando um cretino que estava para entrar. Ele foi o primeiro a morrer. Ainda não tinha espada, nem lança, mas um pedaço de madeira e os próprios punhos foram mais que suficientes.

À medida em que andava pelo vilarejo, alguns homens apareciam no caminho, e um a um, eu batia, derrubava, desfigurava, até que ele desistisse da vida.

Após algum tempo, a notícia estava difundida, e então os homens surgiam aos montes, e então me vi obrigado a parar de exercer a criatividade em cada execução. Ao invés disso, entreguei-me ao caos, e o caos gostou de mim. Todos aqueles imbecis se esbarravam e acertavam uns aos outros mais do que a mim, e enquanto algumas de suas espadas rasgavam minha carne, meus punhos e pedaço de pau a cada golpe estouravam cabeças, afundavam tórax, arrancavam mandíbulas.

Naquele momento, percebi também que tinha irmãos, e percebi que os matava também. Ninguém foi poupado. Após uma ou duas horas, todos os homens daquela vila estavam mortos. Ninguém foi poupado. Ninguém.

Nem prestei atenção se havia mulheres. Se havia, fugiram, isso não importa. O que importa é que aqueles que desgraçaram a minha mãe haviam pago com sangue. Percebi que estava seriamente ferido na jugular, mas, naquele dia, não era eu quem tinha que morrer. E então não morri.

Ao retornar à minha casa, percebi que minha mãe havia parado de respirar. Talvez sua alma estivesse apenas esperando por isso para poder descansar. Ou talvez ela tenha morrido porque fora estuprada demais, mesmo.

Lhe dei um funeral digno. E então parti.

Caminhei em linha reta por 40 dias. Nestes 40 dias, todo homem que encontrava eu matava, não importava quem fosse e nem se fosse simpático. Eu matava sem lhes dar satisfação alguma.

Nestes 40 dias eu também não dormia. Apenas deitava olhando para o vazio e ficava ali parado, de olhos abertos, com um semblante extremamente sério, que desconcertaria qualquer um que viesse falar comigo.
Foi então, que no fim desses 40 dias, após matar uns viajantes, poupei uma mulher. A primeira mulher que vira nestes 40 dias. Eu a olhava, sem expressão no rosto, e ela se tremia. Me aproximei, a toquei, e a amei, mesmo ela não querendo. E então meu segundo torpor, o torpor da matança frenética, descansou.

Lhe disse, então, que a libertaria, mas ela teria de me levar até algum lugar onde eu pudesse encontrar outras mulheres. E ela, sem alternativa, me guiou por 3 dias, nos quais eu notava ela cada vez mais apressada, motivada pelos estupros constantes que eu praticava com ela.

Chegando a Messantia, cumpri a minha promessa e libertei a mulher. Após muita confusão por assediar as cidadãs pelas ruas, encontrei um puteiro, e então descobri que lá haviam vagabundas que eu poderia tocar, sem nenhuma reclamação. Elas só pediam prata, pedras brilhantes, e outras coisas que eu trazia dos homens que matei, e isso eu tinha muito.

Um certo dia a riqueza acabou, e fui expulso a pontapés por grandalhões a mando do cafetão. Foi então que percebi que deveria conseguir mais riquezas, e parti pelo mundo.

Durante os 10 anos seguintes lutei, sobrevivi e saqueei por estepes selvagens para conseguir mais ouro e mais vadias. Andava geralmente à noite, pois meus olhos não falham na escuridão.

Conheci uma tribo de assassinos nômades em Argos e eles gostaram bastante de mim, pois eu conseguia espalhar miolos como ninguém. Eles diziam que eu deveria aprender a bater com algo que não fosse uma espada ou um porrete, para poder variar o espetáculo da matança. Eles falavam de forma convidativa e gostei bastante da idéia, então sugeri que eles fossem me ensinar na Nemédia, pois queria treinar os golpes nos habitantes de lá. E assim aprendi o manuseio da lança, machado e outras armas.

Usei tanto minhas armas naquelas pessoas, que um dia estava satisfeito e não sentia mais ódio por aquele povo. E então um dia, depois de uma boa bebedeira, meus amigos nômades queriam ir para o norte, e eu estava com vontade de ir para o sul. E assim nos despedimos.

Após alguns dias de jornada, cheguei a Belverus, ainda na Nemédia. Lá um nobre ouviu falar da minhas habilidades e me contratou como mercenário diversas vezes para resolver problemas para ele e para conseguir-lhe alguns artefatos. Ele me pagava muito bem, e assim pude desfrutar das mulheres mais bonitas já que peguei na vida... E assim passei até a gostar daquele reino. Um certo dia o nobre me disse que inquisidores o investigavam e então disse que era melhor que eu fosse embora. Rumei para o sul, e semanas depois cheguei em algum lugar litorâneo pelo reino de Shem.

Vagando pela praia por la em um certo dia, avistei uma mulher de pele negra como o ébano. Estava nua, e possuía fartos seios e nádegas. Estava deitada na beira da praia de olhos fechados, as ondas vindo e tocando seu corpo. Ela colocava a mão na água e a passava, devagar, em suas partes íntimas. Então fui até ela, fazer o que deveria fazer.

Após alguns instantes, enquanto estava sobre ela resolvendo a sua carência, homens igualmente negros surgiram e golpearam a minha cabeça diversas vezes rapidamente. Após uns 10 ou 11 golpes de porretes, manguais e barras de metal, fui a nocaute sem chances de reação. Era uma cilada.

Acordei 2 dias depois, e me dei conta de que estava em um navio em alto mar, amarrado. Os marujos eram todos negros como carvão. Passei alguns minutos olhando o horizonte calmamente, e de repente avistei entre os tripulantes a negra filha da puta. Aquilo me levou a um acesso de fúria repentino, no qual, em poucos instantes, havia arrebentado as cordas e estava trocando golpes com marujos armados. Apesar de desarmado, eu estava mandando homens ao chão e ao mar, e alguns diretamente ao próprio inferno, enquanto que eles conseguiam me arrancar apenas alguns cortes e jorros de sangue.

A luta de repente é interrompida com o surgimento da presença de um homem negro e velho, com vestes espalhafatosas e sujas, e estava repleto de jóias. Um de seus olhos era de vidro, e seus cabelos eram escassos, grisalhos e pichaim. Possuía barba abundante, era negra manchada com partes grisalhas. Ele me olhava com um estranho e grande sorriso, e vi que todos os seus dentes eram de ouro. Seu nome era Capitão Boca de Riqueza.

Capitão Boca de Riqueza gostou de mim, não só porque brigava como ninguém, mas também por eu, coincidentemente, ter mandado pro inferno todos os marujos com os quais ele tinha desafetos, e ter deixado vivo todos os que ele gostava. Boca de Riqueza estava extremamente satisfeito, e assim ele me convidou a fazer parte do Violência Negra.

O Violência Negra vinha dos Reinos Negros. Era um navio bem interessante. Seus tripulantes eram extremamente cruéis e bem humorados. O "slogan" do Violência Negra (sim, este navio possuía um "slogan"), era: "Você será violentado por negros". E o fizemos por cerca de 3 anos, aterrorizando a costa desde o Reino de Argos a até o Reino de Kush.

Em 3 anos, a fama do nosso navio chegou a um nível alarmante, e as autoridades tiveram que investir como nunca e tomar uma providência. E assim, um certo dia, o Violência Negra foi surpreendido por uma dezena de navios vindos de vários lugares diferentes. E o navio naufragou, ao som das chamas e das espadas, ao som dos gritos de dor e risadas dos negros insanos. Sim, até na dor e na morte eles riam, e assim é a última lembrança que tenho do Capitão Boca de Riqueza, ferido e agarrado ao timão, gargalhante, com a espada erguida e seus dentes dourados à mostra, em meio ao fogo e a homens correndo de um lado ao outro, e em meio a ondas violentas que voavam sobre a proa.

10 anos se passaram desde o meu despertar. Cavalgo errante pelas estepes da Zingara e avisto uma cidade ao longe.

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