Charlotte Perkins Gilman - O Papel de Parede Amarelo


Fui atras deste conto porque o mesmo foi citado em American Horror Story, numa cena em que Moira comenta com Vivien como os homens não entendem as mulheres. Como acham que todas fazem tempestade em copo d'água.

O conto tem MUITAS semelhanças com American Horror Story. Veja só a história do mesmo: o protagonista masculino, John, é um médico (1) que teve a iniciativa de alugar uma casa de campo (2) (por um preço abaixo da média) (3) de modo a melhorar a saúde da mulher (4). Troque "alugar" por "comprar" e "melhorar a saúde" por "manter o casamento" e VOILÀ!. Já são 4 semelhanças!

John detectou que sua cônjuge tinha histeria. E que isso não era uma doença DE VERDADE, mas sim uma espécie de fadiga. Uma neurose que só as mulheres tinham. A solução seria o descanso. Por curiosidade, vá agora no Google e pesquisa por histeria. Não foi? Vou por você.

O termo tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro.

E isso combina muito bem com o que Moira falou para Vivien em American Horror Story. Se eu conhecesse todas as referências antes de ter assistido ao seriado, teria aproveitado muito mais. Muito mesmo!

Hipócrates cunhou o termo histeria. Antes de cristo. Reflita.

Voltando ao conto: enquanto o marido vivia ocupado com o trabalho (5), tendo que fazer várias visitas aos pacientes durante o dia, mal parando em casa, a mulher acabava por viver isolada. No quarto em que dormia havia um papel de parede amarelo. A mulher todo dia encarava-o e depois de certo tempo passou a ver coisas nele, coisas que só se viam NAQUELE quarto, com AQUELE papel de parede (6). Por não tem com quem conversar e precisando dar vazão aos sentimentos, ela passou a escrever um diário contando da sua relação com o quarto e o papel de parede. O diário dela é a própria história. Tudo na perspectiva feminina.

A histeria só aumenta. O papel de parede amarelo chama a atenção por suas formas disformes. A protagonista fica hipnotizada pelo mesmo. Para melhor compreensão veja a imagem abaixo:


É o azulejo do meu banheiro. As formas não tem logica, né? Se você começar a encará-las, pode ver diversas coisas. Pois foi exatamente isso que aconteceu, cientificamente falando (acho essa expressão tão boba), com a protagonista do conto. Há um nome para isso: pareidolia.

A pareidolia é um fenômeno psicológico que envolve um estímulo vago e aleatório, geralmente uma imagem ou som, sendo percebido como algo distinto e com significado.

Um relógio triste. Será?

A mulher implora de todas as formas para ir embora dali, pois percebia que seu estado de saúde se agravava cada vez mais, mas John sempre nega, pois não quer perder o dinheiro investido no aluguel. Em AHS o casal não pode ir abandonar a casa porque todo o dinheiro foi investido na mesma. Em ambos os caso, alguma coisa impede dos moradores deixarem o recinto (7).


O conto foi escrito no ano de 1891 por Charlotte Perkins Gilman e é bem curtinho, não chegando a 20 páginas (deem uma procurada pela internet que vocês acharão o conto para ler, o que eu falei aqui não é nem metade da história). Segundo a Wikipédia (confio muito nela para informações superficiais) "[o conto] É tido como um dos precursores da literatura feminista Americana, ilustrando atitudes do século XIX da saúde mental e física da mulher". Como você deve ter percebido, Charlotte é uma mulher. Digo isso porque já vi Charlotte homens. Acho muito estranho essa mania de botar nomes unissex nas crianças. Divago.

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