O caso das garotas dançando funk em uma escola em Brasília

As garotas estavam no intervalo, no banheiro, dançando. Sem camisa, beleza, mas não dá pra ver peito nenhum, porque estavam de frente pra parede. Dançando. Não estava atrapalhando aula alguma. A arma era de brinquedo. Daquelas de plástico que vende em qualquer lojinha de departamento. Uma das meninas gravava enquanto as outras quatro dançavam e compartilhou com os amigos das redes sociais (instagram, creio eu). O vídeo viralizou por ido parar nos meios de comunicação. E aí o Brasil da internet viu que as meninas estavam... dançando. Não estavam matando, roubando, fazendo bullying com o coleguinha, dando hate na internet, mentindo, caluniando, injuriando, não estavam destruindo a escola, pichando as carteiras, quebrando cadeiras, usando celular em sala de aula.

"Fiquei bem surpreso quando vi as imagens, até porque as meninas sempre foram tranquilas e nunca deram problema aqui. O aluno dono do brinquedo não sabia que as estudantes iriam gravar aquele tipo de vídeo. Na verdade, ele trouxe a arma para mostrar para um colega, que também gosta de videogame", explicou o diretor Jairton Câmara..

Qual foi o problema que as meninas causaram para serem suspensas por três dias? Tenho dificuldade em entender. É por que era funk? Não pode ser.

Falando com meus asseclas para ver se eles concordavam comigo, eles me mostraram um nova perspectiva sobre o assunto:

- Um simulacro de arma em uma escola, quando ninguém sabe que é de brinquedo, pode causar algum alvoroço. A probabilidade de ter sido feito pra impressionar pessoas de facções não é pequena. É uma forma de tentar proteger o aluno de entrar em uma vida de crime;

- No  PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola pode ter definido que em sua gestão é vetado o uso de celular no ambiente da instituição (e não só DENTRO da sala de aula!), exceto em casos de emergência. Em alguns estados como RJ e SP, eles são proibidos por padrão! Usar o celular nesse caso já iria contra as regras, gravar seria pior ainda. Na prática sabemos que é difícil fiscalizar (como todas as leis no Brasil);

- Por serem adolescentes e a maioria serem de menor idade, não tem autonomia sobre o que pode ou não fazer sem a autorização dos país. Logo, mesmo consentindo que a colega gravasse, esse consentimento de nada vale. Semelhante a estupro de vulnerável;

- No tocante a punição, que achei exagerada, por ser a primeira opção em mente pelos educadores, me disseram que a escola faz isso quando não sabe o que fazer. É uma forma de mostrar que o incidente não ficou por menos. Na prática não significa muita coisa, mas pode, de certa forma, ajudar a resguardar as garotas, esperando a poeira baixar. É mais efetivo uma conversa mais franca com os pais;

- Ainda sobre a punição, ela tem um peso diferentes para alunos de escola pública. Se para mim, quando estava no ensino médio, ficar sem ir para escola era ótimo porque podia ficar em casa vendo TV e jogando videogame, o alunato de escola pública perde a merenda (pode ser sua refeição), podem perder o bolsa família. Ademais, a escola funciona como um local "seguro" em que os pais deixam os filhos enquanto trabalham.

E agora? São ótimos argumentos, mas ainda continuo achando a punição desproporcional.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Solubilidade dos Sais

O conto do monstro sem nome (The Monster Without a Name / The Nameless Monster)